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quarta-feira, 27 de julho de 2011

Ode aos Arieis de todos os dias e cantos e ruas

Acho uma gracinha essa comoção social pelo leão Ariel. É lindo observar a solidariedade humana por um animal que sofreu uma doença degenerativa que o matou em pouco tempo – infelizmente. Poxa, ele era lindo e majestoso; um rei que se despediu da vida na selva de pedras habitada por outros tipos de seres vivos! Uma verdadeira tragédia.

Aproveito o ensejo para que essas mesmas pessoas voltem o seu olhar e multipliquem à sua solidariedade aos animais que, sadios e cheios de vida pela frente, são presos e mortos aos montes todos os dias para encher o seu prato na hora do almoço, do jantar e, quiçá, no café da manhã do outro dia!

Alguns desses, não tão majestosos assim como Ariel, passam uma vida inteira sem por as patas, sadias e prontas para vislumbrar a terra, no chão! São galos e galinhas que vivem a comer grãos e amidos para engordarem e, num futuro, engordarem a você!

Outros arieis da vida são grandalhões também. Muitos são chamados de bois, vacas, bizerros e porcos! Ainda que esses vivam em pastos e têm o direito de ir e vir, passam grande parte da vida ingerindo toneladas de grãos e amidos para engordarem e, num futuro próximo, engordarem a você!

Ainda temos aves diversas, rãs, peixes enfim, uma infinidade de Arieis que, ainda que saudáveis – e principalmente por isso – vão morrer descontroladamente para satisfazer o desejo dos seres vivos evoluídos de comer uma picanha ali e acolá, uma asinha de frango, pra variar, e por aí vai...

Acho importante salientar que não sou contra o consumo de carne animal, apenas peço que reflitam sobre o seu consumo exacerbado! Tudo em exagero tende ao desequilíbrio – e o que mais notamos por aí são pessoas desequilibradas. Carnes de animais são importantes para a nutrição do bicho homem, porém, fazem muito mal quanto a sua ingestão é demasiada. Fica um alerta. Afinal das contas, todos esses que citei, e outros tantos que nem falei, são tão animais quanto o Ariel.

Primeiro ponto encerrado. Agora que vocês, amantes do leão Ariel, se sensibilizaram com os outros Arieis (ou não), chamo atenção ainda para àqueles que todos os dias morrem nas ruas do nosso país. Eles não sofrem de doença degenerativa, não têm e nem precisam de criadores para ajudá-los a se locomover e muito menos a solidariedade e o respeito dos seus pares!

Eles simplesmente adoecem e falecem sob cobertores sujos de asfalto, debaixo da sua narina, sob seu olhar indiferente que, todos os dias, passa por essas mesmas ruas e faz vistas turvas diante desses seres vivos menos evoluídos. A sua doença? A pobreza! É uma situação incômoda, difícil de conviver e, para muitos, nojenta e real expressão da vagabundagem.

No filme “À primeira vista, um homem que nasceu cego e pode enxergar graças a evolução da medicina, vislumbra a vida em tonalidades pela primeira vez. Tudo era novo para ele: as cores do mundo, as texturas da vida, as características dos seus pares. Porém, num fatídico dia de passeio com a sua linda namorada, avistou um morador de rua: “o que é isso?”, perguntou a ela!; ao que a bela moça logo respondeu: “nada! Não é nada!”. Ele, inconformado, parou diante do “nada”, observou, abaixou-se e, surpreendentemente, viu que era um homem. Assustado, ele logo exclamou: “é um homem! É um ser humano! Como você pode dizer que não é nada?!?!”

Sua namorada nada mais é que o retrato de nossa sociedade, cada vez mais criadora de seres vivos evoluídos, mas hipócritas e mesquinhos ao mesmo patamar de evolução, tão cauterizados com essa tragédia social que são capazes de considerar normal pessoas morrendo de fome e frio enquanto, do outro lado da vida, outros esbanjam o que comer, o que vestir e onde viver sem importar-se com as conseqüências do seus atos.

Há muitos arieis paralisados em ruas e favelas! Há muitos arieis precisando da sua ajuda! Há muitos arieis que morrem injustamente em pastos e matadouros para alimentar, exacerbadamente, seres evoluídos que nem sequer se solidarizam por outros seres vivos.

Houve um Ariel que, graças a alguma coisa de que não sei o nome, morreu amparado por pessoas de bom coração, que foi muito bem alimentado por arieis que cederam a sua vida para salvar a do rei. Mas há muitos tantos outros a morrer de fome, de frio e de vergonha que estão impedidos de desfrutar de arieis já mortos para satisfazer a gula e o luxo de seres vivos evoluídos desequilibrados, que vivem em excesso e considera tal realidade a normalidade social!

Um desabafo... falta amor e bom senso no mundo, e sobra histeria!