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quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Como quando chegou!

* Foto: Andressa Marques

Ludovico, por mim chamado. Félix, por Alex e Paula. E ainda Motor, pelos gêmeos. Assim como quando chegou, foi como partiu. De repente, numa tarde. O carro parou do nada. Foi trazido para cá. Todos viram, mas ninguém acreditou: era um filhote felino no motor da Strada. Como meu braço e minha mão são mais finos, o resgatei. E então virou o mais novo mascote. A Pandora, uma cadela vira-lata amada, com ciúme permaneceu por uma semana. Exatamente uma semana.

Pois como quando chegou, partiu. "Onde está o gato?". Poderia ter fugido, poderia ter voltado, poderia ter se perdido, poderia ter sido maltrato. Mas ele, enfim, apareceu. Não, desculpe, não apareceu, engano. Ele foi encontrado. Estava inato na quadra de uma escola. Olhinhos e bocas abertos. Barriga inchada. Lá permanecia morno, após uma morte inesperada. Um último carinho. E eu, que já o amava...

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Getalk

eu: hey man
alguém: olá minha amada amiga
como está hoje? molhada nao vale dizer.
eu: pois bem
é assim que me encontro
alguém: porque a maioria das grandes mentes humanas são solitários?
eu: por isso são grandes
alguém: até mesmo o Sartre teve um relacionamento de ficar... nada sério
tenho uma teoria
acho que é difícil achar alguém que possa acompanhar o livre desenvolvimento da inteligência
eu: claro
por que as grandes mentes humanas são mentes grandes e libertas
liberdade demais
amar demais
amar sempre
amar a maioria , se não todas, delas
mas elas não aceitam
e ocorre a solidão nas mentes grandes
alguém: mas todos querem ter alguém, veja Niet [Nietzche], sofreu muito por amor não correspondido, e sofreu também pela incompreensão de suas palavras
de que adianta estudar a luz se é capacitado como louco?
eu: de que adianta ser capacitado!?
Adianta ser capacitado para si o que realmente a luz o fez!
Niet só amou Lu [Lou Andreas- Salomé] para sempre porque nunca a tocou
porque nunca a teve
alguém: por que buscas a sabedoria, Andressa?
eu: eu busco?
alguém: e porque não buscaria?
eu: não se busca sabedoria
busca-se conhecimentos
os sábios só são sábios por desconhecerem tal sabedoria
alguém: Sócrates
mas Sócrates foi atrás das sabedoria
e isso lhe trouxe conhecimento
eu: ele foi atrás do conhecimento
alguém: não
eu: ele queria conhecer
e tornou-se sábio
alguém: ele foi atrás dos mais sábios, de quem era sábio, e descobriu a grande verdade
mas comprendi o que disse
e reformulando então a pergunta
eu: ai ai
alguém: desistiu de buscar o conhecimento?
ou por que razão busca conhecimentos?
eu: Não
visto que ele é bem diferente da sabedoria
alguém: não escorregue Andressa..rs
eu: mas já busquei para meu desenvolvimento cognitivo
hoje, diferentemente de ontem, busco um conhecimento mais prático!
não o que leva a sabedoria
mas o que leva ao mundo
alguém: e por que buscar? satisfação pessoal?
não se incomode com minhas perguntas
eu: não
satisfação pessoal se fosse eu pelo caminho mais sábio, que é o da sabedoria
busco orientação vocacional
alguém: e isso tem um propósito maior?
seria tu ponte entres homens?
eu: por que tecla comigo com essa linguagem aristotélica?
alguém: minha mente está aberta.. deixei ela respirar um pouco..rs
eu: Ow, sory
permaneça, então, com o ping-pong aristotélico
alguém: posso ser sincero com vc?
eu: mas fica de sobreaviso, nosso diálogo será publicado
claro
alguém: muitos pontos vc foge, escorregadia, ou retruca uma pergunta com outra pergunta.
eu: não fujo
apenas respondo de maneira diferente
vc me disse que estava com a cabeça aberta
estava memso?
memso*
mesmo*
alguém: certamente
o que quer perguntar?
qual a maior virtude do homem?
eu: o que é virtude?
alguém: esta vendo?
foi o que disse, porque não responde?
medo?
entre interrogações não existe argumentação
eu: olhe bem para as interrogações
não com os olhos
com a mente
alguém: então minha mente ficara cheia de dúvidas e pouco conhecimento
quais as qualidades que vc considera mais no ser humano?
eu: Qualidades?
apenas uma mais me atrai
alguém: e qual seria?
eu: sinceridade!!!!!
alguém: boa resposta, embora seja algo difícil de se encontrar nesse mundo
eu: por isso a considero
tipo Lu e Niet
alguém: mas poderíamos ser sinceros em partes
já outra qualidade como humildade só em sua totalidade
mas quero ativar todas as formas da mente humana, então pergunto, novamente, valeria a pena tantos conhecimentos em um mundo governado pelas sombras da ignorância?
correríamos nós, seres comuns, atrás de tanto conhecimento, e aprendizagem, sendo descartados pelo resto da massa e sofrendo as consequências disso e no final das contas sermos tachados de loucos?
eu: o mundo pode ser governado por sombras
mas não deixarei que o mundo me governe
tachados seremos a todo momento
que sejamos de louco então
alguém: então concorda que o número de pessoas como nós são tão raros como achar a sinceridade?
em um mundo de atrativos, de distrações, de prazeres mil, como pode um ser humano perder seu tempo lendo um livro?
ainda mais um livro de filosofia.
quantas e quantas vezes não ouvi as pessoas me perguntando, depois de me ver com a obra de um filosofo ou pensador, a frase: Isso vai cair em alguma prova?
já teve questionamentos como esse?
eu: Já sim
uma lástima
uma tragédia universal
sejamos os loucos, então, e não os tolos
alguém: realmente, mas pensou se vc tivesse nascido em outro meio social, em outra família, se isso seria diferente?
eu: provável que sim
mas se Platão estiver certo com a Anima, ela seria sempre minha, mesmo que em outro corpo (gosto desse =P)
alguém: sim, isso é verdade. Mas vamos ver por outro lado, não estamos lá naquele circulo e mesmo assim buscamos o conhecimento, procuramos entender os antigos sábios, se me permite chamá-los assim, e assim mesmo sendo remadores contra a maré
então veja que temos mais dificuldades, muitas vezes começamos em um ensino fraco e mesmo assim proseguimos...
mesmo assim enfrentamos
somos mais do que loucos eu diria. Mas vc já imaginou deixando de buscar o conhecimento? se entregando ao modo de viver da massa?
eu: Nunca
estou há um mês sem ler um livro
e parece que estou enlouquecendo
jamais deixarei de buscar
alguém: sabe Dressa, tenho que te confessar
eu lia dois ou três livros por semana
ai parei
deixei as coisas acontecerem
eu: não tive nunca tal habilidade
mas lia bastante também
alguém: estacionei
eu: cerca de um mês para cada dois
estacionei
alguém:legal
eu: mas não parei
alguém: eu parei, comecei a perceber as pessoas, conversar com elas e ver o quanto elas eram inteligentes, o que liam do que gostavam
mas sinto falta
e já comecei a voltar a ler
eu: faça as duas coisas, oras!
alguém: tive a falsa impressão que eles percorrem pouco o caminho
da cultura não gostam muito dos filósofos
não entendem o que lêem
eu: isso é trágico demais
meu jornal propõe isso
ensinar a compreender para além de ler
alguém: e te dou méritos por isso
sabe querida
não compreendia como na faculdade
nos primeiros semestres tinha
gente que não sabia ler.
procurava sempre o resumo do resumo de um livro
eu: pois é
alguém: mas o pior foi no semestre passado
quinto semestre em um trabalho do Guto
o grupo mandou por email o que tinha respondido sobre o texto do belo
posso resumir o trabalho
as respostas do grupo
considerado o melhor da sala
se resumia em
eu: claro
alguém: contron C control V do texto
tira a frase do texto e muda algumas palavras
eu: nossa
alguém: não entendiam o que os filósofos falavam sobre o belo
eu: o Guto considerou?
alguém: sim
e veja bem
eu li aquilo e disse: meu eles não conseguem dizer com a suas próprias palavras
eu: que horror
alguém: ou pior.. medo
dizem que tem que colocar para dar credibilidade
eu: sim
num trabalho acadêmico é preciso citar citações de autores já não mais considerados loucos
mas é importante fazer uma leitura dessa citação
alguém: isso eu sei, mas copiar o texto todo e nada colocar com suas palavras
eu: isso é péssimo
alguém:: vc expõe o que acredita e põe o trecho para dar sustentação
agora medo de mudar as palavras porque não compreendeu o filósofo
ta certo ta certo
confesso, filosofia é complicado para alguns
eu: pois concordo contigo querido
vou atender um leitor e logo volto
alguém: beijos
se cuida

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Em diálogos paralelos...

Nietzche e seu eterno retorno! Acredito e não. Mas mais acredito! E a rotina já é um pouco disso. Fazer de cada situação única e exclusiva em si, mesmo que envolta numa rotina, é tarefa diligente! Porque sempre estou na corrida pela mudança de minha rotina e, descomeçar, creio eu, é até certo ponto aceitar tal condição diária!

"Para além do bem e do mal", preciso disso mais uma vez! O amor está para além do bem e do mal. A paixão está muito além disso. A razão sim limita-se ao bem e ao mal!

Amar!
Dependência...
Porque eu sei que amo mas não sei explicar racionalmente porque sei! O filme "Encaichotando Helena" (EUA, 1993) descreve bem a relação do depender do amar! Mas é bom e, daí, não se quer se fazer universal...

Não há melhor sensação de uma entrega total! É como se o corpo fosse segmentado em outro! Sua completude! E o frio na barriga é constante! Mas também há mudança de rotina na rotina! Porque há mudanças significativas no tempo do amar! O amor começa e descomeça e recomeça numa dialética racional, mas inexplicável! Inexorável!

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Oportuno!

* Ilustração de Olga Urbanowicz


Abriu os olhos após a última piscada antes do bocejo.
O celular tocou com vibração mais nítida.
Era quem ela aguardava.
A voz parecia macia como nunca antes houvera.
As palavras se compunham numa consonância harmônica jamais ouvida.

Era exatamente quem se queria ouvir!
Já não mais satisfeita com a vida que levara.
Decidiu engajar-se em mudanças.
E estas vieram como de encontro marcado aos seus desejos.
A oportunidade era aquela que ali procurou-a de voz cativante!

Impulsivamente apressou-se em antecipar os fatos.
O celular cedeu lugar a uma poltrona e uma mesa.
A voz macia adentrou seus tímpanos com mais intensidade!
Tratava-se da válvula de escape em momento oportuno!
Era a alavanca perfeita para a ascensão principiada.

Olhos arregalados!
Ouvidos inquietos!
Lábios escancarados de argumentação!
A chama da mudança estava prestes a ser engolida.
Faltava apenas um detalhe...




quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Da bunda!

* Ilustração/Autor desconhecido

A bunda
É constituída por músculos que permitem a movimentação das pernas, notadamente pelo movimento circular do fêmur.

Movimento que atrai olhares!
Mãos! Línguas! Um jeitoso tato!
O toque do masculino!
O cafuné de lado!

Ora para o lado direito!
Ora para o esquerdo!
Para cima! Hummmm...
Para baixo! Uiiiiiii...

A bunda!
Ora rebolada!
Também paralizada!
Por vezes compressada!
Adoro rebitada!

Pode ser grande, pequena!
Do tamanho ideal!
Aquela que se pega com gosto!
Que sobra um tanto para o lábio!

Ai, a bunda!
Aquela que adora ficar "de quatro"!
Que consegue apontar as estrelas!
A outra que prefere um requebrado!
Deliciosamente excitado!
Molhando! Movimentando!
Entreapertando!
Macia, maciando, tocando, batendo, afogando...

Gosto da bunda porque ela é quase sempre poética, tesuda de ser olhada.
Curto a bunda por respeito a meus valores, por sua reverência à sacanagem sem atas!
Admiro a bunda pelo meu apego ao conceito de explorar o corpo todo e tirar dele todo prazer possível. Pegar, beijar, morder de leve, explorar com a língua e com os dedos, são fontes de prazer que nunca secam. A bunda é uma iguaria especial, e tê-la teteada, um verdadeiro ritual.

Ai, a bunda!

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

De mãos dadas

Ultimamente deu saudades de escrever cartas!
[Vento no Litoral, toca agora, para aumentar o grau da minha melancolia].

Então peço o endereço de sua residência para que eu possa escrever cartas. Já que não podemos ficar juntos o tempo que queremos, sinto a necessidade de mandar a você algo que minhas mãos tatearam e que saberei que as suas tatearão! De certa forma, será uma maneira de darmos as mãos mesmo distantes! Será um modo de olhar para mim, mesmo que longe da minha imagem! De me tocar, ainda que intocável!

De um jeito ou outro, haverá uma partícula de minha pele ali! Não falam que, quando tomamos banho, parte da epiderme escorre pelo ralo? Então, lavarei as minhas mãos e, quando estiverem levemente molhadas, escreverei as palavras que deverei escrever-lhe, assim, a minha epiderme cairá sobre a carta permitindo que nós fiquemos de mãos dadas por alguns instantes!

Ah, o tempo [de novo]! Te amo, meu amor! Faça um filho em mim? Quero cantar Orio para ele dormir! Ah, as saudades [como disse ontem]!Estas tais que me deixam assim assim! Mesmo aquelas que não condizem a um tempo vivido!

Dê as mãos para mim e sigamos de mãos dadas pela eternidade. Quando penso em você, fecho os olhos de saudades! Melancolia doce! Os planos podem ou não dar certo! Os planos podem existir, ora na cabeça de ambos, ora na cabeça de um, pois a ideia pode mudar, em razão de muitas razões!

Mas estaremos de mãos dadas - de alguma forma! Basta ler! Repito: faça um filho em mim para que eu possa cantar Orio na hora de ele dormir após amamentado! Mesmo que este filho viva apenas inteligivelmente por um tempo! Segue de mão dada comigo até a morte levar um de nós dois! E, quando ela chegar, com as cartas, poderemos estar de mãos dadas de novo e de novo e de novo... até que ela volte a nossas vidas e leve o outro!

Mas aí já é outra história...



Devaneio inaugural

Hoje, se eu pensar neste momento que escrevo! Mas já ontem, se levar em consideração este instante que publico tal comentário! E como é difícil tratar o tempo ‘agora’ como já ‘ontem’ quando ainda não o é ou, então, como compreender que exatamente este segundo, que acabei de escrever esta palavra – esta mesmo -- já é futuro!

“Dai-me luz/Oh, Deus do Tempo!”, cantou Los Hermanos. Por que essa luz realmente é necessária quando alguém deseja refletir acerca disso que proponho agora, ou propus ontem! Sei lá! Parece-me que esse Deus da Luz resolveu abandonar-me, ou sequer olhou para mim!

Orio, da Marisa Monte [Ahh, Marisa, como queria que sua voz fosse minha, não somente o digo por sua afinação e timbre aveludado mas, principalmente, pelo fato de poder passar mensagens das quais acredita para um número significativo de pessoas] é o que ouço agora, ou ouvia, ininterrupdamente quando as letras aqui digitadas agruvinhavam-se uma a uma criando forma e sentido.

A princípio, por falta de ter com quem confabular desejos, às 22h15 do dia 26/4 (o único desta existência e, por isso, tentei e ainda tento vivê-lo intensamente), resolvi conversar com esta folha intateável, somente possível na telinha do meu "personal computer” [a não ser que eu decida imprimi-la, mas eu não decidirei isso].

Tive, então, a idéia de um programa de rádio cultural que seria veiculado por uma estação comunitária. Daí, veio o impulso de escrever um projeto para poder levá-lo para um monte de gente! Depois, como assistia a Ensaios da TV Cultura com Cristina Buarque ao mesmo tempo que limpava os borrocos de esmalte que fiz nos dedos da mão e do pé e escrevia mensagens de texto do meu celular para o celular do moço meu, mudei de idéia.

Zapeando os canais da tv aberta, no programa ídolos ouvi um japonês cantando o trecho de uma música que senti falta de ouvir, era mais ou menos assim: me cansei de ficar mudo/sem tentar sem falar/mas não posso deixar tudo como está/como está você?! Então vim ouvi-la, acabei ouvindo Marisa e, agora (22h27) finalmente a ouço na voz de Gil de Lucena. (Vem pro meus braços meu amor meu acalanto...não deixe nada pra depois).

Ahh, o tempo! Sempre presente, ora passado ora futuro! Que futuro? O futuro não existe, me disseram uma vez, não sei quando e nem quem, e até acreditei nisso mas, se pararmos para refletir na minúcia, será que o presente na verdade não é uma fração de segundo muito mais rápida do que o tempo que o cérebro age sobre nosso corpo? Então, reflito de novo: o agora logo depois de ter sido vivido já não é um passado substancialmente projetado num futuro? E, na verdade, é o presente que deixa, agora, de existir? Ah. Doce melancolia!