Para muitos, a vida começa quando as cortinas do grande tablado se fecham e as luzes, todas, se apagam. É quando não há plateia que a obra de arte começa, envolta apenas ao princípio mesmo, sem a necessidade do meio e do fim.
Para que se preocupar com o meio se, para quem o vive, o basta simplesmente vivê-lo? Para que se atentar ao fim se no fim já não há o que viver? Que se reflita o começo, então, o verdadeiro paradoxo da existência. O que nasce já o faz pelos caminhos que levam a morte, porém, percorrendo-os através da vida.
Para essas pessoas, a vida é sempre um grande espetáculo. Vive-se o amor, o drama, a comédia, o trágico - a flor da pele... mas o que realmente importa é que se vive por inteiro, protagonizando a sua própria dor, a sua própria alegria. Na verdade, o sentimento não importa para essas pessoas, o que importa realmente é chamá-lo de seu e, assim, o encarar.
Para essas pessoas não há razões para deixar de fazê-lo. O que importa é o espinho da roseira na carne, fazendo sangrar, mas que, paradoxalmente, fazendo sentir a intensidade do aroma da rosa que acaricia as têmporas ao mesmo instante em que o seu toque macio, na pele, faz sangrar. (Ainda que sangue cênico) Muitas vezes, é na dor, no sangue, na morte que se encontra o sentido da vida. Não a toa, quando vivas, as flores carregam consigo o cheiro de morte!
Para essas pessoas, o sentir, o conceber, o perceber está na escuridão de um teatro abandonado e no eco de um cenário vazio. Não é preciso aparentar porque são os grandes expectadores de sua própria história. Não é preciso plateia: a obra se faz vista para quem é preciso enxergá-la. E só. Para que mais? Bastam-se a si mesmas.
Para essas pessoas ser ator de si é mais que representar, é atuar em causa própria, extinguindo-se de si a percepção do outro - que é um universo à parte. Atuar é agir em sua própria história, modificando roteiros, apontando novos direcionamentos, determinando fazer parte a quem se quer, sem falas.
Para essas pessoas, as respostas nunca foram tão importantes mesmo. As respostas limitam os questionamentos, versam sobre o desvendar dos mistérios que impulsionam o operar na vida. Com as cortinas fechadas, as luzes apagadas, um novo universo faz-se dentro de quem nascera para viver em si. À plateia, apenas as flores...