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quarta-feira, 2 de março de 2011

O outro em mim

“Como é por dentro outra pessoa?” - uma vez questionou Fernando Pessoa. “A alma de outrem é outro universo”, respondeu ele, timidamente, debruçando o seu olhar sobre aquele ou aquela, a quem se quis...

Porque o outro... o outro é uma viagem sem volta, é o jogar-se de cabeça num penhasco em neblina; é o mergulhar-se no mar escuro e imenso, sem o medo de deixar-se levar por uma correnteza que nos imerge fundo, profundo...

Ah, o outro... adentrar o seu universo é tomá-lo para nós mesmos, por nós mesmos. É um arrepio sem frio, de uma pele quente, em chamas. É o badalar dos sinos de cristais, em cujos encontros racham incessantes, mas que assim o precisam para, dos cacos, a música tocar...

No outro, o enxergar dos sóis dançantes adiantes da menina dos olhos. O caminhar sobre a relva mítica do desconhecido, pairando leve sobre a trilha do sentir. O calar da razão sobre o grito do desejo...

O outro é o velejar por nuvens tempestivas, mornas e envolventes. É o amanhecer que adentra a janela, consumindo a intimidade daquele que desperta em vida. É o semear da luz que da escuridão brota...

Em cada poro dilatado, um universo novo, de novo, se cria no outro. É o vislumbrar nítido do sangue corrente em nossas veias; como corredeiras de vida, límpidas, que fazem a alma escorrer volúvel e fincar-se na vitalidade de quem, antes, fluiu em sua maré em forma amante...

Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo.”

(Fernando Pessoa em “Como é por dentro outra pessoa”)

5 comentários:

Anônimo disse...

Bravo! Magnífico! Superou-se! (Claro que me tomei como medida, ou seja, esta é a minha opinião.) Adorei, Mocinha. O outro é um labirinto em que o segredo se encontra na saída, mas não existe saída deste labirinto. Como disse pessoa, o outro, não passa de uma suposição da nossa perspectiva. De alguma forma, o outro sequer existe. É mais um ser criado pela nossa mente, neste baile de seres inventados e decodificados pelos nossos olhos e outros sentidos. Mas... Convenhamos, e sei que concordas: como são excitantes os estímulos que nos proporcionam a interação com esta idéia do outro... Sentimento, esse universo infinito que nasce do encontro entre tantos outros universos infinitos...

Ps.: Não precisa confessar, mas eu sei que você escreveu esse excerto tomando-me como inspiração. =P

Beso.

DanyiMarques disse...

"Sentimento, esse universo infinito que nasce do encontro entre tantos outros universos infinitos... " - lindo isso!

Tomei você como inspiração? Logo eu, que nem sei quem é...

Anônimo disse...

Pois é... Nunca sabemos quem é o Outro, sabemos somente da idéia que dele fazemos, não é isso? É o que aprendi com seu excerto.

Anônimo disse...

Mais duas coisas, acho que ainda não elogiei o novo LayOut, ficou lindo! E Solilóquio, que termo lindo você me ensinou agora! Adorei!

DanyiMarques disse...

O que sabemos mesmo é nos perder no outro...

Fico contente que tenha gostado das novidades ;)!

Outro beijo...