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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Do mundo sem voz

Depois de tanto tempo sem fala...


Cada dia que vivo, observo como as relações sociais estão contraditórias. É curioso isso, mas tenho observado um tipo de diálogo mudo em nossa sociedade! Aliás, você que lê tal texto agora tem sido o receptor de mais uma fala sem timbre! A verdade é que ao mesmo instante em que estamos conectados com tudo e todos que habitam o nosso planeta, estamos cada vez mais solitários, introspectivos e vazios do que dizer e sentir. De tanto querer voz, o mundo está mudo!De tanto querer conhecer, o mundo está ignorante! De tanto querer enxergar, o mundo está cego!De tanto querer o querer, o mundo está submerso num mar seco de desejos que jamais foram seus.

Essa “Revolução Digital”, em minha opinião, é tão igual à Revolução Industrial - iniciada na Inglaterra em meados do século 18, expandiu-se para o mundo no século 19 - cujo intuito era, pelo menos num primeiro momento, facilitar os meios de trabalho e de produção do sistema estatal economicamente fundado para que, assim, os trabalhadores tivessem mais tempo para a vida, e não apenas para o labor. Foram deslumbradas, assim, as oportunidades que os meios de produção industriais teoricamente proporcionavam-nos e garantiam-nos a sempre desejada melhorara significativa da qualidade de vida.

Porém, tempo depois, esses mesmos seres humanos observaram que se os trabalhadores deixassem essa história de viver plenamente de lado e passassem a despender mais tempo de sua vida operando mais máquinas para produzir mais “moeda de troca”, os seus engenhos, as suas fábricas e as suas empresas poderiam vender mais e, consequentemente, ele poderia lucrar mais e, lucrando mais, poderia comprar mais máquinas para, assim, comprar mais tempo de vida de trabalhadores e, assim, fazer a roda do seu próprio umbigo girar e, ainda por cima, lucrar ainda muito mais.

Vejo a “Revolução Digital” muito dessa maneira, apesar de nuances distintas entre uma e outra! Como praticamente tudo que o ser humano inventou visando a sua qualidade de vida e sua evolução transformou-se em bolas de ferro presas por corrente em nosso tornozelo, a sociedade da era digital também sofreu com mais essa mudança de conceito e passou a estabelecer relações sócio-virtuais cada vez mais impertinentes à sua origem. E aqui vou me ater, apenas, às chamadas redes sociais!


Participo, gosto, não vivo sem e faço bom frutos graças à essa tecnologia inventada, revolucionada e consolidada em nosso tempo. Não passo um dia sem acessar e-mail, facebook, twitter, linkedin, youtube, blog e todo o universo que a vida digital nos proporciona. Vida digital! É praticamente um mundo sem fronteiras aguardando por nossa passagem de ida – sem volta!

Nesta vida digital conhecemos pessoas dos quatro cantos do mundo, visitamos lugares distantes, encaramos sem olhar nos olhos a garota e o garoto que tanto desejamos, compramos os objetos tão queridos, estamos on-line 24 horas por dia, tudo no toque de alguns dedos. Adorável! O mundo, de repente, configurou-se na tela de um computador – e olha que existem milhares de tipos hoje, inclusive os portáteis!


O viver sem fronteiras, paradoxalmente, nos limitou a presença virtual do outro. Não seria problema se não fosse tão contraditório assim. Ao mesmo instante que necessito instintivamente me comunicar, não me comunico em nossa realidade, mas em uma realidade inventada. Então conversar já não mais faz sentido quando podemos digitalizar o nosso diálogo em algumas palavras. O tempo de espera do encontro real é muito maior que o tempo de espera do encontro virtual, que é quase nulo!


Para muitos, basta uma troca de mensagens para se sentir satisfeito do outro! Do outro que não podemos ter no tempo agora da vida real, mas sim apenas no tempo infindável da vida inventada! Exemplo disso: não é raro participarmos de encontros sociais reais, com pessoas reais e, por isso mesmo, tateáveis e com capacidade física para nos enxergar e ouvir, e nos sentirmos estranhos já que os assuntos só co-existem na vida inventada ou, ainda, que o outro opta por dialogar com o outro que está on-line na vida inventada enquanto você espera, no ar, um minuto de sua distração para tentar principiar um diálogo efetivamente falado! O smartphone sempre ganha!


Posso estar errada, mas sinto que estamos perdendo a habilidade de nos falar, nos ouvir, nos enxergar, nos tocar, nos sentir. Sinto que estamos atrofiando as nossas pregas vocais e todo o sistema fisiológico responsável pela dicção e pelo reflexo sonoro das palavras!

Sinto que, de tanto querer voz, o mundo está mudo!De tanto querer conhecer, o mundo está ignorante! De tanto querer enxergar, o mundo está cego!De tanto querer o querer, o mundo está submerso num mar seco de desejos que jamais foram seus mas que foram inventados pensando em você!


Mas vai que é apenas uma impressão?! Terapia...

1 comentários:

Amanda Cruz disse...

Amiga querida,

Ler os seus textos é uma terapia...nos faz refletir e pensar em muitas coisas. Até mesmo expressam aquilo que nós apenas haviamos sentido. E vc consegue trazer isso na forma escrita de um modo todo especial. Escreva sempre escritora Andressa!!
Bjs