Pages

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Luto

Escrever dá medo. A cada frase, uma revelação. Aquele que escreve é audacioso. Tem o meu respeito pois, apesar do medo de expor-se – quando há -, o faz da mesma maneira. É melhor expor-se que se calar. Quem cala não apenas consente mas, intrinsicamente, arranca-lhe o direito de expressar-se, de viver-se. De fato uma relação paradoxa. Quem escreve nem sempre quer dizer-se, mas obrigatoriamente o faz. Ainda assim, opta por escrever. Prefere falar-se a calar o seu ímpeto de dizer. É um grito em forma de aglutinação gramatical. Uma mudez que grita mais alto que qualquer berro. Escrever dá medo. Porque o que está escrito não morre com o tempo, permanece nele. Não morrer dá medo. Porque não tem volta. E há dias que morrer é providencial...O dom da eternidade que a escrita confere é fabuloso e assustador. Se cai no esquecimento, basta o ler novamente. E tudo renasce! Engana-se a morte.

Nesses dias refutei-me sobre a minha falta de paciência em escrever um diário. Sempre o quis, mas nunca vi sentido naquilo! Escrever para mim mesma sobre o meu dia vivido? Para que, se o que vivi já foi vivido por mim e, logicamente, o saberei que vivi? Um pouco nostálgico demais...Mas que besteira a minha. Perdi a chance de eternizar quem já fui para mim mesma! Matei minha outrora e nem percebi. Nem chorei. Mas hoje sou luto! Pensei nisso ao abrir uma caixa com cartas e bilhetes enviadas por pessoas do passado. Pude viver de novo cada momento; foi uma experiência diferente do lembrar. A lembrança é vulto. E a nitidez com que revi o passado foi diferente de tudo que já me aconteceu. Imagem não diz tudo. A palavra sim. Então senti vontade de ler minhas respostas para dar findo a cada história que os bilhetes trazem em si: nunca conseguirei! Luto! [Ah, que tolice a minha].

Hoje escrevo para salvar a mim mesma de mim! Tenho o dom de querer me matar - mesmo quando não se é providencial. Viver dá medo! Não morrer é ainda mais medonho! O tornar-se ridículo perante alheios nos sucumbe. Quanta bobagem...Temos uma forte tendência suicida, e ainda acreditamos que "o inferno são os outros" (Jean-Paul Sartre). A aceitação de deixar de ser quem se é em função de moral social ou, por menos, por promessas garantidas a outrem, é o mesmo que atirar na própria cabeça todos os dias da (não) vida. Que bom que ainda tenho a palavra. Nessa mudez posso permitir ser quem sou. Nesse instante, sou governante de mim mesma e não há quem possa me matar que não apenas eu e tão somente eu. Que o vulto seja apenas da lembrança não dita e não da vida manifesta!

2 comentários:

Arte na Lata disse...

Te admiro como mulher, como amiga, enfim...uma mulher da qual escreve sem medo de errar, mesmo ciente de que escrever dá medo...mas, é um medo passageiro e como você disse as palavras não morrem e as que li vão circular dentro de mim por todo sempre.

Te adoro mulher! Felicidades, sucessos são os meus desejos de vida para ti.


Viva a vida!

Jotta Ribeiro
Arte na Lata

DanyiMarques disse...

Que Deus te abençoe, Jotta!

Vivamos a vida, somos pródigos dela!