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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Minha vantagem é ser feita de pele e sangue

Não quero a sorte de um sonhador. Prefiro a audácia do imaginador. O primeiro se limita aos imprevistos da inconsciência. Já quem imagina, liberta-se no trunfo das possibilidades. Executa o ato de projetar, de perceber e de guiar. Já o sonhador executa o ato de destinar-se. A mente inconstante o destina a apenas vislumbrar e, raramente, o faz sentir. Apenas quando está bondosa, então se sente. Geralmente ela é voraz e faz do sonhador joguete do destino, arrancado-lhe o sopro do real com um leve despertar. Pensando bem, o ato de sonhar lembra um pouco a vida. Por vezes no seu âmago, basta um simples suspirar para já se acordar. Assim é a vida. Por vezes destemida, basta a quem vive tropicar para ela o deixar. Mas também, quem mandou desacordar para imaginar? Todo amanhecer é um pouco morte para quem sonha. Gosto mesmo é de imaginar. Imaginando, posso até suspirar e nem sequer despertar. Ao contrário, o suspiro vira alimento daquele que imagina. Outra vantagem, não se precisa dormir e nem esperar. Basta projetar, perceber e deixar-se guiar. O imaginar também permite a quem imagina o sentir. Porque a minha vantagem mesmo é ser feita de carne e osso, pele e sangue. O osso para o sustento da carne que, ao toque da pele, faz o sangue irrigar por dentre as veias o doce veneno da volúpia! Os sonhos, deixo para os sonhadores. O que me atrai é o delírio de uma carne bem quente, bem real, a adentrar minhas entranhas cuja alma já está esgotada em devaneio. Latejante, a sinto como se uma vida inteira começara a nascer dentro de mim. Então me abro, me permito e a encorajo a fincar no solo sagrado do deleite o doce substrato da euforia fulgurante do desejo. Os sonhos? Que estes sejam sonhados por aqueles que admiram sonhar. Eu sou admirador do prazer sem amarras, do pulso que faz a carne pulsar. Da vida já não sou dono mesmo. Que ao menos eu seja do meu sonhar. Então, opto pela imaginação, que me faz sonhar, sentir, viver e ainda decidir quando morrer. Que os sonhos caiam-me à esquerda; os desatinos, esses sim à minha direita. Imaginar, imaginar e imaginar até o meu sangue me irrigar e provocar o derrame do pólen viscoso do gozar. Meu pacto é o sentir do prazer. Viver de prazer para morrer com prazer! O gozo de uma carne latejante é infinitamente melhor que a alucinação de um sonho consonante!

2 comentários:

A.A. disse...

Uau! Não conhecia esse teu lado!
Parabéns!

DanyiMarques disse...

Obrigada, Appel!
Anseio por suas críticas, hã!

Um beijo!